Capítulo 3

+++

A Revelação


++++

Os primeiros cravos vermelhos já começaram a desabrochar ,bem como as pequenas romãs do jardim de Lúcius.

As flores que mais brilhavam nesta estação eram as “bluebells”, que lembravam pequenos sinos de tom roxo,muito forte, anunciando a chegada de uma primavera espetacular.

Naquela manhã primaveril de 02 de abril de 1754, Miriam sentia as primeiras contrações do parto.

Todos estavam ansiosos na sala, enquanto a parteira local, tentava trazer ao mundo, o bebê tão esperado.

Dois quarto de hora havia se passado, D.Jaíma sentia que algo estava errado, mas ficou em silêncio para não preocupar Lúcius. A demora não passou despercebida para ele, que num instante teve a impressão de ver um clarão passando ao seu lado.Assustou-se, ficou pensativo, afinal, o que seria aquilo?E em meio as suas perguntas silenciosas, o choro de uma criança,trazia serenidade para todos espectadores.

A parteira, muito conhecida na região, trouxe a criança até a sala, envolvida por linda manta tecida por D.Jaíma.Os fios coloridos com tons de lilás, branco,verde e vinho,deixavam o bebê com aparência majestosa.

-Meu filho!! Deixe-me senti-lo! - Disse Lúcius.

-Sim Senhor,mas, não é filho, é filha! - Disse a parteira.

-Como?Uma menina?Oh, que benção,Senhor!Uma filha!!E vejam todos, que bela! Que semblante de paz! - Disse Lúcius.

-Sim meu filho - disse D.Jaíma - é tão bela quanto sua esposa!E veja, quanto cabelo! É linda! Parece uma rainha! Minha pequena rainha!

Os amigos mais próximos, também se compraziam deste momento ímpar da vida daquela família.

Passada a emoção, Lúcius foi até o quarto falar com sua esposa. Ela dormia profundamente. Sua pele pálida e as toalhas sujas que estavam sendo retiradas pela parteira, deixou-o assustado.

-Está tudo bem? – questionava Lúcius

-Oh, Senhor, dona Miriam não está bem,perdeu muito sangue, foi um parto muito difícil,ela pedia pra mim, o tempo todo,salvar o bebê e deixá-la partir,se fosse o caso. Ela adormeceu em seguida ao nascimento da menina – disse a parteira

-Nem me diga uma coisas dessas! Eu sempre falei pra ela, que filhos a gente pode ter outros, mas esposa como ela, nunca mais! – falava Lúcius, demonstrando desespero.

-Senhor, ela escolheu entre a vida dela e a do bebê, não eu.É um direito dela.Ela disse que esta criança tem uma missão especial, e que a dela já estava no fim.

-Não pode ser!Ela não faria isso comigo!E minha filhinha, sem a mãe por perto, o que será dela? – perguntava Lúcius,inconformado com a escolha da esposa,caso a vida do bebê estivesse em risco.

-O que temos a fazer agora Senhor, é orar. Para que ela se recupere – disse a parteira.

-Então, a minha própria filha, levou de mim a mulher que mais amei nesta vida?Que ironia do destino.Como pode Deus permitir uma mãe escolher entre a vida dela e a de seu filho? Não vou orar para um Deus assim. Se Miriam me deixar, por culpa desta criança, sentirá a minha ira,pois não vou perdoar essa injustiça causada por Deus e por “minha” filha. Vou ficar aqui,do lado dela. Até o momento que ela despertar.

A parteira saiu, despediu de todos , e seguiu para sua casa.D.Jaíma cuidava da criança.E Lúcius continuava ao lado de Miriam, inconsolável, parecia sem vida, sem luz. De repente, lembrou daquela luz que passou por ele enquanto aguardava na sala.O que seria aquilo?Porque ninguém viu? Que sensação boa sentiu naquele momento...

-Lúcius, é você? – perguntava Miriam, bem baixinho.

- Sim ,meu amor, sou eu, como se sente? – perguntou Lúcius

-Preste atenção, meu querido, não tenho muito tempo.Cuide de nossa menina, como se fosse a maior jóia de sua vida.Minha mãe lhe ajudará.-disse Miriam.

-Não diga isso Miriam, eu não suportaria te perder assim! Ter a vida roubada pela nossa própria filha! Oh! Deus do céu, que justiça é esta? – rogava Lúcius em pranto, desesperado, sem fé, sem amor, sem esperança.

-Lúcius, a vida segue seu rumo, tal qual escolhemos um dia.Meu pai está aqui do meu lado.Junto de meus avós.Eu terminei o que tinha prometido nesta vida.Agora, você precisa terminar a sua tarefa.Vai educar e dar amor a nossa filha.Respeitará a sua sogra,como sempre fez. E em breve descobrirá o verdadeiro motivo de nossa união aqui neste planeta.-disse Miriam.

-Mas, Miriam, como poderei amar quem levou meu amor? – disse Lúcius.

-Não seja egoísta, Lúcius. Siga sua vida, cumpra o que prometeu.E lembre-se, eu estarei sempre perto de você.Até quanto for permitido.-afirmou Miriam

Os lábios de Lúcius, tocaram os de Miriam,docemente,como numa eterna despedida.E assim ficaram, até que ele percebesse que ali jazia, um corpo vazio.


CONTINUA...


Autora e escritora:Michelle Pozitano



0 Response to "Capítulo 3"