Capítulo 6 - A MISSÃO SÍRIUS







O vento primaveril tocava a face de D.Jaíma,naquela tarde do dia 03 de abril de 1754. No lado oeste ao sopé da Montanha da Vida, ela orava, com alguns amigos e familiares, pela partida de sua querida filha Miriam.

Ao sair do túmulo de Miriam, D.Jaíma seguiu para o mosteiro, na esperança de minimizar a ferida que a vida havia lhe oferecido.

Ao passar pela gigantesca porta frontal do mosteiro, com a pequenina em seus braços, o monge Rodrigues pressentindo a presença de energias benevolentes adentrando o mosteiro, desceu rapidamente do andar superior para receber a pessoa que exalava tal energia.Ao chegar no térreo, avistou uma senhora discreta, com expressão cansada.

-Boa tarde senhora, seja bem vinda! Posso ajudá-la?

-Boa tarde senhor. –disse D.Jaíma, já prosseguindo -Hoje meu coração está despedaçado! Acabo de enterrar minha filha! Meu marido também se foi, mas sei que meu Eugênio está em algum lugar muito bom lá no céu, pois foi marido e pai magnífico!

-A morte é a vida em transformação. Certamente seu marido está em algum lugar de paz e luz, assim como sua filha.

-Oh, que palavras lindas,isso me conforta um pouco.Eu ainda não sei como agir perante tantas mudanças em minha vida!Mas, graças a Deus, tenho este “pequeno tesouro” para cultivar. – disse D.Jaíma mostrando a pequena em seus braços.

Neste instante, o monge Rodrigues percebeu que a energia que sentia, vinha do bebê que D.Jaíma trazia nos braços.Ele pôde ver que ela tinha grande padrão vibratório, e sabia que ali estava a filha de Lúcius.

-Como se chama este pequeno “tesouro”?-perguntou o monge dirigindo o olhar pra o bebê.

-Ainda não sei.Esta menina mal chegou e a vida dela já é tão difícil.-disse D.Jaíma

-Porque não fica alguns dias no mosteiro, participando das atividades e interagindo com outras pessoas?Ajudaremos com a criação da menina, e tenho certeza de que encontrará conforto e compreensão das dores que sente. – disse o monge Rodrigues carinhosamente.

-Não,senhor.Vim mesmo pedir que abençoe minha netinha, pois hoje mesmo devo partir. Retornarei a minha terra natal, onde eu e meu marido crescemos e tivemos nossa Miriam.Quero que minha neta cresça e seja educada do mesmo modo que sua mãe.-disse D.Jaíma baixando a cabeça.

-Então,pelo menos, deixe-me ajudá-la na escolha do nome desta bela criança! Afinal,ela tem direito a um nome - disse o monge,tocando em gesto de carinho, a face da criança.

-É uma boa idéia.Minha filha nunca disse nada sobre nome de filha ou filho, mas Lúcius sempre brincava com nomes para seu bebê.- disse D.Jaíma com sutil inclinação dos lábios com ares de sorrisos.

-Então, quais nomes que ele mencionava?-Perguntou o monge.

-Falava em Maát para menina, e ...

-É isto! Que belo nome! Bem parecido com “ele” mesmo.-disse o monge em tom festivo.

-Hora, tem razão, é um belo nome, mas você conheceu Lúcius?-Perguntou D.Jaíma,curiosa com o comentário do monge.

-Ah,minha filha,conheço pessoas que nem imagina.Maát representa justiça,ação correta.É bem parecido com Lúcius.Creio que é o nome perfeito!-Disse o monge, muito alegre.

-Então está escolhido, Maát ! Eis seu nome, minha pequena flor - disse D.Jaíma, erguendo a menina para o céu.

- Agora preciso ir.Muito obrigada.-finalizou D.Jaíma

-Se assim deseja, vá em paz, e que Deus lhe acompanhe - disse o monge Rodrigues, que ao tocar na testa de Maát, para fazer o sinal da cruz em representação as bênçãos concedidas, sentiu tão grande poder, que teve visões de Sírius, dos jardins suspensos que ele adorava freqüentar, do sol que os alimentavam,dos pássaros que cantavam longas canções, etc.A energia passada pela pequena Maát, neste toque sutil, fez com que o monge Rodrigues estivesse lá parcialmente. Ao terminar o gesto, ele olhou profundamente para D.Jaíma e disse:

-Sempre estaremos aqui,caso necessite de ajuda.E este convite se estende a todos seus conhecidos e familiares.

-Obrigada.Vou seguindo para não tardar muito.

E assim,D.Jaíma seguiu para a casa de Lúcius, na intenção de iniciar a mudança para sua terra natal.

Ao chegar na casa, viu Lúcius terminando de arrumar pequena trouxa de roupas.

-Onde vai,meu filho?-perguntou D. Jaíma.

-Oh, minha sogra querida,tão dedicada a família, a casa e a vida! Não suporto a idéia de seguir sem minha Miriam. Vou caminhar por aí,sem rumo,sem destino.Pois não posso mais viver neste lugar!-disse Lúcius com as de mágoas profundas.

-Mas minha filha Miriam está em um lugar melhor. Agora, temos que seguir nossa vida, amar e educar Maát, e ir caminhando conforme Deus nos guia. – disse D.Jaíma com ar sereno.

-Maát? Era o meu nome predileto.....mas não posso ficar! Como vou amar alguém que levou de mim a mulher de toda vida? Esta menina não trouxe nada de bom. Deixo-a com a senhora, pois eu não posso amá-lá! Embora seja sangue de meu sangue,roubou de mim, a alma da alegria.-disse Lúcius em tom de desprezo.

- Meu filho, a vida vai te mostrar o quanto está errado.Este menina chegou para lhe trazer algo de que necessita muito.Mas só o passar dos dias é que vai descortinar a importância do amor sublime, do perdão, e da seqüência da vida. Não pode culpar sua filha da morte de Miriam.Ela não tem culpa do destino que se seguiu.-disse D.Jaíma,compassivamente.

-Desculpe senhora por decepcioná-la.Mas não posso olhar esta criança, pois vejo nela a traição Divida, tirando de minha vida uma pessoa,para receber outra.Se algum dia este sentimento enorme de raiva e vazio desaparecer, eu voltarei. Mas não a deixarei desamparada.Sempre irei aparecer para deixar alimento e ervas para vocês duas.Mas não me peça para amar esta menina!-disse Lúcius terminando a trouxa de roupas.

-Lúcius querido, creio que no mosteiro encontrará o que procuras.Amigos sinceros encontrará por lá.Fique algum tempo no mosteiro,tenho certeza que voltará a agir com o bom senso de sempre.-disse D.Jaíma

-Deus me magoou muito.Naquele lugar só tem pessoas que falam em Deus.E eu não quero ouvir nada sobre este assunto.Vou indo, já está tardando e quero pousar no vilarejo de Crespe ainda esta noite.-disse Lúcius abraçando D.Jaíma e olhando o bebê sonolento nos braços dela.

-Oh Lúcius, como está com idéias erradas sobre o mosteiro.Lá não se fala só de Deus, mas de tudo que é bom.-disse D.Jaíma enquanto Lúcius já seguia no pequeno cavalo carregado de tristezas e mágoas.


continua....

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